19 janeiro, 2006

Pedrinhas

Não tinha só uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinham várias pedras. Mas tão pequenininhas essas pedras, algumas eram quase areia. O problema é que nem sempre a gente tem um sapato pra calçar. Às vezes não tem nem um chinelo de borracha. E aí a gente tem que andar descalço, a gente anda descalço mesmo. Mas essas pedrinhas, essas pedras tão pequenininhas, incomodam tanto. E nossa retina tão fatigada não mira mais à frente, tem que procurar pedrinhas pra não pisar. A gente não é triste não, mas acontece que às vezes é preciso andar cabisbaixo.

06 janeiro, 2006

Cataratas

Você olha e tudo o que você pode fazer é olhar. E além de se sentir pequeno e finito, uma tempestade de paz anuvia sua mente. Seus pensamentos são resvalados junto à água que cai drasticamente e depois corre sem sofrimento. O estrondo é tão alto que silencia todas as coisas e é tão forte que se assemelha ao próprio silêncio. Nada sobra de você, apenas seu relógio-de-pulso – verdadeira algema da sociedade – que lhe prende e lhe puxa para fora daquele lugar. E o que realmente sobra são umas fotos, uma memóriazinha vulgar e a sensação de ter sido acordado no meio de um sonho bom.