04 agosto, 2006

Nova Deli, 3 de outubro de 2005.

S., é a dor, sempre ela, lacraia rastejante encriptada nas vísceras, a velha. mas há que conviver, deixá-la quieta sossegada. e eu lembrei de você, sempre lembro na verdade, lembrei quando olhei para a janela e era um dia de sol, um dia lindo e doce, um dia que só a sua presença faz, por isso lembrei. em Nova Deli o tempo está um tanto amargo, chove muito nessa época e costumo dormir de janela fechada, mas às vezes me sinto tão preso e sem ar. e hoje quando lembrei de você abri as portas da varanda para o sol, e era como se o dia estivesse verdadeiramente começando, abri como se abre um novo dia, um novo. a noite daqui me agrada, me acalma. saio do trabalho com uma vontade de consumir o sereno, sabe? de vez em quando dá vontade de deixar a chave no contato, pendurar o terno na lua nova, ir para o aeroporto... mas isso me dói, ainda dói, preciso de água fria e de calor, preciso mesmo respirar. estou um pouco sem fôlego para escritos e sem inspiração para sentir saudade, às vezes acho que é a dor que me mantém, ela existe porque vivo. suporto a vida, desisti de desistir dela. tenho lido bastante apesar, li teu livro novo, tem o teu cheiro nas palavras, teu rosto, é lindo. ainda tem medo da solidão? pensa em voltar? guarda tuas flores, teus perfumes... guarda para mim, que um dia te levo minha saudade. beijos doces, J.