26 junho, 2007

Nando Reis

O ano era 1999, eu ligava o rádio a qualquer hora e em qualquer estação e lá estava a Cássia Eller cantando “O Segundo Sol”. Ouvia e não me cansava de ouvir, e como não deixo nada – ou quase nada – passar despercebido, fiquei me perguntando que diabos era aquele tal de segundo sol. Analisei a música sob o ponto de vista romântico, que me parecia o mais apropriado e realmente era, e me deparei com um achado extraordinário: o segundo sol é o amor. A partir disso toda a música teve um novo significado, o amor chegou para realinhar a órbita dos planetas, unir duas pessoas, derrubando com um assombro exemplar o que os astrônomos diriam se tratar de um outro cometa; os astrônomos, as pessoas que observam a aparição desse novo sol, o amor, julgando ser uma coisa passageira como um cometa, uma paixão efêmera. Nesse momento não só descobri uma poesia surpreendente em uma música popular, como também reconheci um cara ainda mais surpreendente: Nando Reis. Reconheci porque naturalmente já o conhecia como o baixista ruivo e acanhado dos Titãs, mas ainda não conhecia o grande compositor que era. Fui ao show dele em São Paulo e tive uma nova surpresa: Nando Reis com o seu jeito tímido e calmo é um verdadeiro show-man, tem uma presença de palco monstruosa e uma energia ainda maior que cria entre ele e todas as pessoas que o assistem uma intensa ligação de amizade. Contagia com seu ritmo e emociona com suas belas letras. Não tem medo do óbvio e conquista cantando o que seu público quer ouvir, se desprende de conceitos e canta todos os seus sucessos, mesmo aqueles que ficaram famosos com outros artistas, e tem com isso um resultado felicíssimo. Gosta de conversar com o público, muito bem articulado, contava histórias engraçadas sobre sua vida, sobretudo sobre seus filhos, inclusive canta duas músicas que fez para dois deles: “O Mundo é Bão Sebastião” que abre o show e “Espatódea” para sua filha Zoé, a única com os cabelos alaranjados como os dele. Uma música em particular me tocou profundamente nesse dia, pois além de a escutar realmente ouvindo o que ela dizia, ela falava sobre tudo o que eu estava passando e sentindo: a música “N”, que fala da distância entre ele e sua mulher Nani, pois vivem em cidades diferentes, e a letra inicial de seus nomes que os ligam e os impedem de se separar. Uma música linda com toda a sua simplicidade e honestidade. Saí do espetáculo desse admirável artista com uma sensação de bem estar físico e espiritual como só dão os prazeres do copo e da mesa, quando se está com sede ou fome, e os da cama quando se ama. A vida ardia sem explicação.