Mensagem
E tivemos aquela conversa de sempre. Eu pedindo que nos encontrássemos e ela ocupada demais com amigas e outros compromissos secundários. Eu insistindo que me visitasse e ela irredutível e insensível. Disse isso a ela e nos brindamos com palavras rudes, mas sem uma briga declarada. Depois nos despedimos normalmente e desliguei. Já era tarde e fui dormir, sem conseguir. Apesar de ter desligado com beijos, estava com raiva, muita raiva contida. Tanta coisa a ser dita e nada disse, mas também não cabia dizê-las. Não temos nada um com o outro, somos apenas duas pessoas que se gostam e que estão juntas, mas sem vínculo, sem rótulo, sem compromisso. Mas não conseguia ficar em paz, estava sufocado pela minha angústia de querer falar. E ali estava, logo ao meu alcance, meu celular, não para ligá-la, mas para resumir todo o meu descontentamento em uma mensagem. E comecei a escrever, “Estás cada vez mais distante, estás te afastando e me perdendo”, e apaguei. Não estava boa, tinha que tocá-la, tinha de ser mais contundente, “Lamento por tentar ser tão arrogante e conseguir”. Após pensar em mais algumas frases ásperas que não me satisfizeram, comecei a refletir sobre mim mesmo. Era toda a culpa dela? Alguma sim, mas não toda. Talvez eu estivesse pressionando demais, talvez estivesse esquecendo os meus defeitos e dos erros que havia cometido e que poderiam estar causando isso agora. Enfim, me coloquei junto a ela no banco dos réus e me condenei com a mesma impetuosidade que a havia condenado. E então escrevei: “Tudo fica tão melhor quando nos abraçamos. Sinto saudades. Durma bem. Muitos beijos”. E assim deitei e dormi. Bem.