31 março, 2007

23h31

Alex puxa a fumaça pela boca enquanto balança a cabeça como que concordando com o que ouve, mas está sozinho. A brasa que queima perto do seu nariz é a sua confidente. -É ela, ela me faz fechar os olhos, e quando fecho os olhos só tenho olhos para ela, é só ela que eu vejo. E ela é a razão, é o que me faz abrir os olhos todos os dias de manhã e desligar o despertador com o vigor de quem levanta da cama para aproveitar as férias em Angra dos Reis; mas eu lhe digo, embrulhinho de tabaco, eu lhe digo: eu levanto da cama para colocar um sapato que combine com o cinto e ir ralar no asfalto, andar no meio daquela multidão diária, e naquela multidão eu só tenho olhos para ela, não vejo ninguém. Digo isso a você porque você me entende, porque só você me entende. Não há ninguém dançando sobre os telhados, ninguém voa em volta do sol e não há de haver ninguém que consiga apaziguar a paz que ela me causa. Alice... E antes de tomar o último gole de sua garrafa de uísque e deitar para dormir, Alex joga despretensiosamente a guimba de cigarro pela janela; a guimba quica no aparelho de ar condicionado do vizinho de baixo e rodopia traçando linhas vermelhas no ar numa atitude de extrema alegria.