26 abril, 2006

Vingança

Ao entrar no quarto daquele homem que tanto odiava, e ao vê-lo tranqüilamente dormindo, não hesitou e cravou-lhe no peito a faca que tinha nas mãos. Esfaqueou-o mais uma vez com as duas mãos carregadas de raiva. Matou-o. Ameaçou em silencio com a faca ensangüentada a mulher que havia acordado com o gemido abafado do marido. Passou pela porta da frente deixando para trás o choro e os gritos desesperados daquela mulher. No carro, retirou o capuz negro. Pisando fundo no acelerador, certificou-se pelo retrovisor que estava livre. Olhou-se no espelho como se olhasse para um cúmplice e não para si. Havia alegria e indiferença em seu olhar. Sentia o alívio de ter cumprido a sua vingança. Mas ainda sentia a dor que a vingança não apagara. Passou a mão pelo rosto e sentiu uma gota que estava escondida em seu olho. Uma única lágrima.

15 abril, 2006

Outro Escrito Sem Artigo

Tem gente que se despede mandando beijos e abraços, mas não beija, não abraça. Tem gente que diz que ama, mas não exerce o amor. Ama um banco vazio em frente ao mar. Ama de aluguel, por tempo e preço determinado. Essa gente tem um amor que entra de férias. Ama no fim-de-semana. Tem hora marcada para amar. Gente que não tem fé, precisa de milagres pra saber que Deus existe. Tem gente que gosta de rotular e classificar. Podem me chamar de romântico, jaboriano, rodrigueano, marciano, o que for, serei sempre eu. Simplesmente eu, com toda a simplicidade que alguma coisa pode ter. Assim como amar. Amor não necessita de artigo definido ou indefinido. Olha, amor é amor e pronto. É simples. Amor deve ser escrito sem artigo. Tem gente que precisa definir e limitar para se proteger. Quem tem medo limita. Como aquela pessoa que vai na beira do mar pra se molhar, mas não sente toda a sensação de liberdade que um mergulho provoca, não sente o balanço das ondas. Não nego a necessidade do sinto-de-segurança, mas não me peça para parar de acelerar numa estrada plana e reta, sem limites.