30 junho, 2006

Sozinho

Era um disco-voador. Olhei e pensei ser um avião; era branco e flutuava, mas parecia estar parado. Não me assustei. Continuei ali deitado na prancha, no meio daquele mar de pequenas ondas, olhando pro céu... E como é grande esse mar. E como o céu é maior. Olhei em torno com os olhos de quem olha de cima, olha por trás dos olhos e enxerga tudo de uma vez. Costumava fazer isso quando era menino; olhava as coisas de um jeito esquisito de quem pergunta pra quê aquilo tudo, por quê existe o existir. Que modo engraçado de uma pessoa de dez anos pensar na vida. Ficava sem resposta e me distraia. Depois me acostumei. Olhei de novo para aquele ponto no céu e nada. Tinha sumido. Era um disco-voador. Continuei na mesma, sem me sobressaltar, olhando o azul do céu... azul que não está lá, que é ilusão, fronteira entre olhos e estrelas. Tive, então, a ligeira sensação de estar sozinho. Bem, sozinho estava mesmo, tirando algumas poucas pessoas que foram à praia naquela tarde de segunda. Mas não era isso. Me senti sozinho, vagando no mundo, como cada um é. Sozinho como quando se morre. Pois sei que mesmo depois das bodas de ouro morreremos sozinhos. E assim me sentia. Perdido, naquele mar sombrio e inconstante. Ovni do mundo. Depois nadei até a areia. Sozinho.