24 novembro, 2005

Vinicius

Vinicius de Moraes, o poeta da paixão, está morto. Morreu um mês antes do meu nascimento. Se há reencarnação, diria que reencarnou em mim. Se não há – e eu acredito mesmo que não haja – diria então que reencarnou em mim. Sim, sua alma está em mim. Não quero dizer com isto que sou ele, que muito maior que eu, mal cabe na minha pele. Mas como ele, procuro a paixão como quem procura a própria vida. Eu sem paixão não tenho porquê. Sou chama sem luz, jardim sem luar, luar sem amor, amor sem se dar. Sou só desamor. Não me contento com as coisas certas. Certo mesmo é a busca. Faço da vida uma aventura errante. Largo quem for em busca do novo amor. Assim, de repente, não mais que de repente. Nem que para isso tenha que ficar sozinho e triste, como o mar que soluça. Triste mesmo é estar com alguém e estar triste. Sozinho fico até alegre. É melhor ser alegre que ser triste. A vida é uma grande ilusão. A verdade não existe. Toda verdade absoluta é uma mentira. A vida é uma mentira, uma invenção. Cada um inventa a sua. Inventei a minha sendo Vinicius, sendo alegre na tristeza, amante na solidão. Será que Vinicius de Moraes está vivo? Sei lá, só sei que é preciso paixão.

17 novembro, 2005

Palavras

Escrevo para me ver livre, para não ficar louco. As idéias são como bichos, insetos, que entram na minha cabeça e se multiplicam. Quando não escrevo, elas ficam lá dentro se debatendo. E crescem – não que sejam grandiosas, mas crescem – e machucam e incomodam e não me deixam dormir. Escrevo então para minha cabeça não explodir, despejo e vomito palavras. As palavras carregam minhas angústias, emoções e sentimentos. Escrevo para ficar em paz.
As palavras são minhas. São comuns e usadas, mas me aproprio delas. Iluminação divina, inspiração, o que for. Quando escrevo faço delas escravas, subordinadas e me prendo a elas. Elas me prendem. Elas não mostram, não desvendam. Não. Elas escondem, isso sim. São muros de letras, mascaras em verbos e substantivos. As palavras são traiçoeiras às vezes.

01 novembro, 2005

Bom Dia

Já não vejo paredes, vejo Lia, Sabina e Mariana. A outra é a janela. A janela matou a TV. A árvore balançando é melhor que o seriado americano. O teclado é minha luva. O monitor desligado é o meu rosto. Ando pisando em escorpiões, eu ando. A janela acende. Bom dia! E ela apaga. O cheiro do relógio impregnado no meu nariz. Vivo sem sombra. De dúvida eu vivo. Ouço o vento. Chamei a persiana, ela se parece mais com Lia, Sabina e Mariana. Horário de verão e tempo chuvoso. Os livros fazem fila pra me devorar. O que é uma hora? As fotos me olham. A cama me tira o sono. Se eu escrevo é pra dormir.